sábado, 18 de junho de 2022

Síndrome do All-in destrutivo: As vezes que zerei meu patrimônio

 Bom fim de semana, netos e netas.

Tem dia que faço terapia com meu terapeuta - Garçom Carlos, vulgo carlinhos, nunca erra um pedido - e tem dias que eu faço auto-terapia - ontem foi com uma garrafa de vinho, vendo vídeos do youtube, dos quais não me recordo.

Nesses momentos de reflexão, me veio a cabeça as vezes em que torrei todas minha economias (ou parte substancial delas) em determinada coisa. Dando um verdadeiro All-in do meu patrimônio (em um bem de consumo).


Na faculdade eu dava aula em cursinho, e ao longo de 4 anos trabalhando e economizando, consegui chegar no sétimo período com uns R$ 9.000,00 de economias (que eu colocava na poupança), ano de 2004. Era época pouco antes da popularização dos notebooks, e os primeiros modelos começavam a chegar nas lojas.

Neste ano comprei meu primeiro notebook, de 5 mil reais (mais da metade do meu patrimônio) e no ano seguinte, dividindo apartamento alugado com mais 2 amigos, 4 mil reais em mobília.

O Notebook foi um símbolo de status... eu era "respeitado", e como sempre fui ensinado a dividir, vários vinha pegar emprestado o "notebook do neto financista"

Após me formar, morei na casa dos meus pais por um ano, de novo, juntando dinheiro, e após isso aluguei um quarto e sala, e novamente, os 10 mil reais q juntei naquele ano, todo meu patrimônio, virou móveis pro meu ap novo. (acho q os móveis do meu quarto estão num imóvel praticamente abandonado dos meus pais)

Um tempo depois (acho q mais 1 ano), meu notebook queima, e meu segundo notebook, outro de 5 mil reais, exauriu minhas economias.

2 anos morando nesse ap, eu pedi demissão do meu primeiro emprego, sem um outro emprego na mão, decidido a morar com meus pais de novo enquanto estudava para concurso. Esvazio meu apartamento, doando todos os móveis e eletrodomésticos para a minha avó. No dia q formalizo meu pedido de demissão meu celular toca, era um amigo de turma me chamando para trabalhar no backoffice da asset em que ele trabalhava.

Consigo esse novo emprego, que coincidentemente era num bairro vizinho onde eu morava. Cancelo a devolução do apartamento. E uso todas minhas economias novamente para mobiliar um imóvel novamente.

Fico 1 ano e meio nesse novo emprego e sou demitido (assunto para um próximo post). Agora sim, entrego o apartamento alugado, volto pra casa dos meus pais. O mobília e eletrodomésticos vão substituir os mais velhos do meus pais.

Com a grana que juntei nesse 1 ano e meio, (uns 160 mil reais, sim, no ano em que fui demitido fui o maior bônus da minha gerência), comprei uma casa bem velhinha no bairro dos meus pais. (Esse all-in foi o único all-in não destrutivo que eu dei... nem considero all-in).

Neste momento, acho q eu tinha quase nada de caixa, que foi se consumindo enquanto não me realocava. O ano era 2010/2011. Consigo emprego em outra cidade, alugo um apartamento já mobiliado e não compro carro.

Após 1 ano nessa cidade, sou transferido para outra cidade. E nessa nova cidade, sim, mobílio um quarto (dividi com uns amigos) e compro um carro. Aqui, além de zerar meu patrimônio, ainda peço dinheiro emprestado pra minha mãe para comprar o carro com desconto à vista. Ano era 2012 e tinha 28/29 anos.

E, felizmente, essa foi a última vez q dei all-in destrutivo no meu patrimônio.

O que mudou? Não lembro de nada específico. Nenhum ponto de ruptura. Como eu disse, nunca fui desregrado ou gastão. Sempre economizei... sempre ganhei mais do que gastei... Nem cartão de crédito eu usava, era tudo no débito.

Sempre tive a vontade de ter um bom patrimônio e economizava para isso. Mas, de tempos em tempos, meu cérebro preparava uma armadilha, pegava todas as fichas e dava all-in em uma compra que eu racionalizava que eu merecia!!!

Dps disso, eu virei o banco da família. Poucos anos depois, acho q nem 3 anos, minha mãe perguntou quanto eu tinha para emprestar pra ela comprar um terreninho numa cidade que ela gosta perto da nossa. Eu retruquei perguntando o quanto que ela precisava. Ela sem graça disse 20 mil e que iria me pagar de volta. Eu disse ta bom, te faço a TED e não precisa me pagar. Minha mãe falava "claro q vou te pagar". Como eu aceitei os 20 muito rápido, minha mãe toda sem graça disse: pode ser 30 mil? E disse: claro que sim... Aí ela puxou uma papelzinho do bolso, fez umas contas de cabeça e disse: pode ser 40? E novamente eu disse q sim...

Confesso que, nesse momento, foi quase um all-in. rsrsrs.. mas foi uma das vezes, se não a vez, q eu mais gastei dinheiro feliz. Transferi 45 mil reais. Óbvio que não cobrei de volta.

Outra vez, essa faz uns 5 anos acho, meu irmão para comprar seu apartamento me pediu uns 150 mil emprestado. Emprestei a 10% ao ano. Ele conseguiu comprar o ap e me pagar relativamente rápido. Deixei os últimos 5 mil de brinde pra ele.

Voltando ao assunto inicial, fazendo um levantamento aqui:

2004 - 20/21 anos - notebook - Patrimônio foi para uns 4 mil;
2005 - 21/22 anos - mobília de 1 quarto - Zerei meu patrimônio;
2006 - 22/23 anos - notebook + mobília do quarto sala - Zerei meu patrimônio;
2008 - 24/25 anos - remobiliei meu quarto sala - zerei eu patrimônio;
2010 - 26/27 anos - comprei uma casa - zerei caixa. Patrimônio de uma casa de telha de barro, sem laje, precisando de reforma total.
2012 - 28/29 anos - mobiliei meu quarto + carro + endividamento - Patrimônio 1 casa, 1 carro mais a dívida com meus pais!!!

Hoje me pergunto, por que que eu fiz isso. Acho q a resposta foi uma mistura de "eu mereço" com não saber gastar. Sempre fui bastante econômico, acredito ser devido a minha criação classe média (baixa), durante a qual sempre vi que o dinheiro do mês dava pra pagar as contas, colocar comida na mesa, e um bob's por mês (sim eu e meus irmãos sempre gostamos mais de bob's, deve ser por causa do picles do big mac). Logo nunca soube "me dar luxos". Não sabia o quanto gastar para me dar prazer/status.

Talvez tenha vindo à cabeça de 2 dos meus 3 leitores deste texto a expressão "falta de educação financeira". Eu queria concordar completamente com essa epifania, mas não... Não foi somente falta de educação financeira, ou falta de maturidade financeira - lembrem-se, eu trabalhei numa asset, sabia de finanças que nem 1% do Brasil sabia.

Minha conclusão é que eu cai em armadilhas do cérebro. Foram momentos de "eu mereço" com "foi fácil juntar isso, dá pra juntar de novo" e " nunca mais vou gastar como to gastando agora" "no futuro estarei ganhando mais e esses gastos nem vão fazer falta."

Por várias vezes sabotei o efeito bola de neve. O fato de eu ter imobilizado meu patrimônio foi "sorte" de eu ter ganhado uma bolada e convertido logo em imóvel. Se eu chegasse àquele montante no pinga pinga, muito provavelmente poderia te colocado tudo a perder num momento de all-in destrutivo.

Felizmente para mim (e para minha filha), o circulo vicioso se quebrou.

Hj estou enfrentando um novo desafio: minha taxa de poupança está despencando (mas isso é assunto para um próximo post).

E vcs, netos? Ja deram all-in nas suas economias?

Ja olharam para aqueles 20 mil q vc economizou no ano, 100% das suas economias, e pensou "pô daria uma bela viagem isso aqui"?

Como foi a sua transição de sabotador do efeito bola de neve para acumulador de patrimônio?

Bora lá!!!

PS: Caramba, só de pensar que gastei 10 mil reais nos meus primeiros 2 notebooks me deixa muito triste!!!

8 comentários:

  1. E vcs, netos? Ja deram all-in nas suas economias?
    Ô, inclusive estou allinizado nesse momento.
    Minha "estratégia" é RF e apenas uma ação, só tenho ações de uma empresa onde estão no momento pouco mais de 80% do meu patrimônio, até agora estou no azul, mas já permaneci algum tempo no vermelho.
    Acredito que possa haver mais alguma valorização, para aí eu poder sair da RV de vez. Talvez depois eu invista em uma LCA com rendimento ao CDI e pronto. Esse ano tem eleição e provavelmente muitas especulações e volatilidade virão, isso além do cenário internacional.
    Portanto gostaria de não estar em RV a partir de Setembro, no máximo até a Agosto, pelo menos essa é minha expectativa.
    Fiz muita besteira em ações entre o fim de 2019 e o ano de 2020 no auge da volatilidade pandêmica e isso serviu de lição, desde de fevereiro de 2021 permaneço com apenas 1 ação. As vezes menos é mais.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Fala, Anon, belezin?

      Pô, cara, vc tá bem!!! All-in em renda fixa é bem diferente de all-in em notebook, sofá e televisão!!!

      Vc ta investindo em patrimônio. Eu "investi" em bem estar imediato...

      Mas é isso, foco na construção de patrimônio!!!

      Abs

      Excluir
    2. Esse período de tempo que estou na bolsa me ensinou algumas coisas, entre elas:
      Ninguém sabe de nada: Quase ninguém nos fóruns ou em canais de internet sabe de fato o que está fazendo.
      Há muita mentira: Tem muita mentira, muito conteúdo sensacionalista, caça likes e caça views sobre o tema, pouca coisa de fato é boa na internet em se tratando de RV.
      Pulverização pode ser um erro: Pra que pulverizar?
      Quase ninguém ganha bem com pulverização e se for pra ter trabalho com investimento pulverizado e ganhar mixaria é bem melhor a RF.
      Não ficar acompanhando direto conteúdo sobre RV: é desnecessário ficar perseguindo ações e empresas, escolhi uma empresa que via possibilidade de valorização e investi nela, só vejo informações sobre ela e mesmo assim com certa moderação.
      Em resumo é isso, não sou especialista, mas quase ninguém é, estou tentando so menos sair bem do mundo das ações, que considero não ser pra todo mundo, até porque pode ser desgastante.

      Excluir
    3. Concordo com todos os seus itens, Anon.

      Ninguém sabe nada: Se a pessoa sabe dificilmente estaria dando de graça na internet.
      Há muita mentira: derivado do item acima.
      Não ficar acompanhando direto o conteúdo de RV: Esse é um dos meus motivadores que está me fazendo migrar para o investimento por ETFs. O Bastter até chega a sugerir um faixa ideal de atenção pros ativos, mas ainda não me satisfaz.

      Só discordaria um pouco na pulverização. Se a pessoa não sabe nada, melhor apostar em várias que em poucas. Por mais "certa" que a pessoa esteja, o mercado é soberano... ou ainda a velha máxima... o mercado pode permanecer louco por mais tempo que vc consegue permanecer líquido... às vezes a correção do preço para convergir para a nossa teoria não vem na hora q queremos.

      Excluir
  2. Um ponto que esqueci de colocar no texto - os típicos all-in destrutivos que enxergo nos outros:

    1) Celular de 7 mil reais;
    2) Carro zero; e
    3) Festa de casamento.

    Tem gente q gasta todas as economias e deixa de fazer patrimônio torrando com os itens acima!!!

    ResponderExcluir
  3. Entao vc vem desde 2008 acumulando consistentemente, chegando a quase 3kk em 14 anos. Nada mal. Parabéns Neto !! Qual sua profissão ?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Fala, Vagabundo.

      Sou engenheiro de formação, atualmente tenho uma função gerencial na diretoria financeira da minha empresa.

      Excluir